Abaixo segue o discurso da procuradora Debora Rossini:
"Boa noite a todas e todos!
Cumprimento o Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Sumaré, vereador Willian Souza, agradecendo também o convite para participar da noite de hoje, e estendo a saudação aos senhores vereadores e demais autoridades aqui presentes.
Aproveito o momento para saudar a memória de Maria Aparecida de Jesus Segura, nossa Cida Segura, e de Lourdes Bandeira, professora da Universidade de Brasília, e referência nos estudos da violência de gênero, falecida em setembro passado. Registro também uma breve homenagem às mulheres vítimas de neoplasia da mama e às vítimas de violência doméstica; todas elas vítimas de cânceres: um biológico e outro social.
E por que falar de vítimas numa noite de comemoração? Porque, para além das vítimas, há as sobreviventes. E aqui faço uma provocação: há nome melhor para se referir à mulher do que SOBREVIVENTE?
Permanecemos vivas, com muitas cicatrizes no corpo e na alma, continuamos a existir e a resistir aos embates e dificuldades da vida. Nós mulheres, na maioria dos lares, somos a primeira a se levantar e a última a ir dormir por conta rotina doméstica. Somos a mãe de fulano, a esposa de beltrano, a filha de ciclano, mas dificilmente somos reconhecidas como nós mesmas. Precisamos de uma figura masculina para justificar nossa existência. E EXISTIMOS. Nós mulheres somos a maioria da população, mas ainda somos subrepresentadas politicamente nos poderes legislativos. Nós somos a maioria dos graduados em ensino superior, mas ainda nosso salário é menor que o dos homens numa mesma posição profissional, e esse número diminui ainda mais quando falamos da mulher negra. Somos desqualificadas quando pertencemos a minorias étnicas ou somos mulheres com deficiência. E RESISTIMOS. Ganhamos o apelido de mãe-solteira, quando ao homem a paternidade muitas vezes ainda é optativa. Somos chamadas carinhosamente de super mulheres quando, na verdade, estamos mergulhadas em jornadas triplas de trabalho. Quem cuida das crianças, dos enfermos e dos idosos na grande maioria das vezes? “O que eles chamam de amor, nós chamamos é de trabalho não remunerado”, diz a filósofa Silvia Federici. Somos mortas em frente aos nossos filhos, porque nosso ex companheiro não aceitou o fim do relacionamento. Quando somos mulheres transexuais, entramos na triste estatística do país que mais mata pessoas trans no mundo. E SOBREVIVEMOS.
Vocês, queridas homenageadas, além de tudo, são também sobreviventes!
E é uma alegria imensa fazer a primeira fala da Procuradoria Especial da Mulher na noite de hoje, encerrando o Mês da Mulher da Câmara Municipal de Sumaré, que trouxe mulheres incríveis para falar de Maria da Penha, de sua história e legislação; de como podemos identificar um relacionamento abusivo e quais os meios para buscarmos ajuda, além de falar da triste realidade do feminicídio. Encerramos hoje também a exposição Mulher, mostra tua cara!, da parlamentar jovem Geissieli Victor, com pinturas sobre tela de inúmeras faces da mulher. Tanto as palestras, quanto a exposição, estarão disponíveis no site da Câmara.
Finalizo minha fala sobrevivendo e resistindo junto com todas vocês!
Muito obrigada."
Publicado em: 05 de novembro de 2021
Publicado por: Debora F. R.