Unidade oftalmológica também segue fechada; superintendência do hospital teme que situação fique insustentável entre abril e maio e prejudique atendimento médico em toda RMC
O presidente da Câmara Municipal de Sumaré, vereador Willian Souza (PT), confirmou que as alas pediátrica e oftalmológica do Hospital Estadual de Sumaré (HES) estão fechadas, o que contraria a informação do Governo do Estado de São Paulo de que manteria as unidades em funcionamento, mesmo após o corte de verbas no orçamento do HES. A constatação veio durante diligência realizada pelo vereador, em companhia do deputado federal Carlos Zarattini (PT), no dia 25 de fevereiro. O relatório da visita foi juntado à denúncia que o vereador já havia enviado ao Ministério Público Estadual.
Na diligência, acompanhada pelo superintendente do hospital, Dr. Maurício Wesley Perroud Jr., Willian Souza constatou que, na sala “Atendimento Pediátrico”, no primeiro andar do HES, havia cinco leitos disponíveis e vazios, todos com equipamentos e insumos. “Aparentemente o ambiente está sendo desmontado de forma gradativa, e os recursos estão sendo utilizados em outras alas do hospital. Desde o início do ano, não há atendimento de crianças no local”, diz o relatório. O parlamentar registra que ainda na ala pediátrica havia cinco leitos de UTI ocupados quando da diligência.
Na sala ao lado, denominada “Emergência Pediátrica”, havia um paciente adulto. De acordo com o superintendente, o espaço com dois leitos está sendo utilizado para atendimento de emergência para adultos. Na sala seguinte, outros três leitos devidamente equipados estavam sem uso.
A situação é ainda mais grave no terceiro andar do hospital, onde quase toda ala de pediatria está em desuso – durante a diligência havia apenas dois pacientes em salas diferentes e, segundo o superintendente do hospital, estavam em “isolamento”. Quatro quartos, com aproximadamente três leitos cada, estavam totalmente fechados, com todos os equipamentos para atendimento de crianças encostados nos cantos das salas.
“Apesar da conservação e limpeza, todo terceiro andar do hospital remete a um lugar abandonado”, avalia o vereador. No relatório, o parlamentar destaca também que, de acordo com a superintendência do hospital, “é provável que a situação fique insustentável entre abril e maio deste ano, afetando o atendimento médico em toda a Região Metropolitana de Campinas (RMC)”.
Ainda no primeiro andar do hospital, a ala oftalmológica foi praticamente toda desmontada, restando apenas alguns móveis nas salas. Os equipamentos utilizados para cirurgias de catarata e retina estão no local, mas em desuso. “São cinco ambientes diferentes e todos estão vazios”, lamenta Willian.
CORTE DE VERBAS
O imbróglio envolvendo o Hospital Estadual de Sumaré vem se desenrolando desde o início do ano, quando o governo previu redução de 12% na subvenção para a área da saúde em todo Estado. Com a redução contratual, que passou de R$ 130.422.720,00 para R$ 121.945.251,00, entre 2020 e 2021, a Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp), que administra o HES, anunciou a extinção de serviços como urgência pediátrica, oftalmologia, enfermaria, além do cancelamento de cirurgias ambulatoriais, consultas, exames e demissões em massa. Os cortes nestes serviços foram estabelecidos pela própria Secretaria Estadual de Saúde, por meio do Departamento Regional de Saúde (DRS VII), de Campinas.
Neste contexto, o HES confirmou, em 11 de janeiro de 2021, o fechamento por completo das alas de pediatria, oftalmologia e centro cirúrgico ambulatorial, impedindo a realização de 600 internações pediátricas, 1.300 cirurgias de catarata, 145 cirurgias de retina e 2.700 cirurgias ambulatoriais agendadas em 2021. Tais informações foram encaminhadas por meio do Ofício nº 013/2021, do próprio Hospital Estadual de Sumaré.
No dia 14 de janeiro de 2021, a Secretaria Estadual de Saúde anunciou o aporte de R$ 1,6 milhão ao hospital para garantir a “perenidade do atendimento pediátrico de enfermaria e UTI”. No entanto, o vereador Willian Souza recebeu inúmeros relatos de médicos e pacientes sobre a falta de atendimentos pediátricos, apesar do anúncio de “retomada imediata”.
No dia 18 de fevereiro, por meio do Ofício 094/2021, o vereador Willian Souza solicitou diligência interna no Hospital Estadual de Sumaré, o que ocorreu uma semana depois.
Publicado em: 10 de março de 2021