A Comissão Especial de Inquérito para investigar o contrato entre a prefeitura e a empresa Odebrecht Ambiental deixou os trabalhos internos na Travessa Primeiro Centenário no Centro da cidade na noite de ontem (30/03) e foi até o bairro Bom Retiro, região da Área Cura, para ouvir a população durante audiência pública. Foi a primeira vez na história do Legislativo sumareense que uma CEI promove audiência fora das dependências da Câmara.
A iniciativa foi motivo de aplausos por todos os cidadãos presentes na EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Anália Oliveira Nascimento, que pediram a continuidade desse contato mais próximo dos parlamentares com a realidade do povo.
O presidente da Comissão, vereador Willian Souza (PT), explicou que esta é a primeira de uma série de audiências públicas que serão realizadas durante as investigações. “Essa é uma noite histórica para a cidade e significa a aproximação efetiva do Poder Público com a população. Os vereadores vieram até aqui para ouvir o que os moradores pensam sobre os serviços prestados pela Odebrecht. Essa é uma fase importante das investigações realizadas pela comissão”, disse.
A taxa cobrada para fazer a religação de água foi apontada por mais de um morador como abusiva. Os moradores lembraram também que para famílias de baixa renda havia isenção da taxa quando Sumaré tinha o DAE (Departamento de Água e Esgoto). “No DAE nós tínhamos até o direito de atrasar três contas antes de cortarem nossa luz”, comentou o vereador Rudinei Lobo (PRB).
Outra questão levantada por um morador foi o tratamento de esgoto. “Sumaré não trata nem 20% do esgoto e mesmo assim é cobrado. Vemos o esgoto sendo despejado irregularmente aqui próximo de nossas casas. Já foram assinados vários TAC’s (Termos de Ajustamento de Conduta firmados com o Ministério Público), mas até não foram cumpridos”, desabafou.
O vereador Márcio Brianes (PCdoB) lembrou que o contrato de concessão da Odebrecht prevê que a empresa tem até 2028 para tratar o esgoto 100% no município de Sumaré. “O ex-prefeito Bacchim deixou uma verba no valor de R$ 90 milhões para o tratamento de esgoto e a prefeita Cristina Carrara perdeu”, disse o parlamentar.
Outro morador repercutiu a falta de atenção com a população de baixa renda. “O que a população clama é que o governo olhe para os mais necessitados que são contemplados com moradia, mas, por outro lado, são contemplados com uma conta de água alta, um absurdo. Essa empresa não é bem vinda na nossa cidade”, disse.
A diretora do Procon-Sumaré, Andrea Uchoa, também fez uso da palavra e revelou que estava à frente do órgão quando a Odebrecht ganhou a licitação. “Recebemos muitas ligações de moradores revoltados e insatisfeitos com o fim do DAE, mas fui orientada a não registrar essas manifestações. Em outra ocasião, quando foram emitidas várias contas duplas, a população compareceu em massa para reclamar. Por isso, chamei o Procon-Campinas e fizemos uma reunião com a Odebrecht. Estávamos com uma multa para ser aplicada, mas no outro dia cedo o problema foi resolvido”, garantiu.
“Estação de tratamento de esgoto que exala mau cheiro é estação que não funciona”, disse o morador outro morador. “O mau cheiro do esgoto retorna para dentro de casa. As crianças são as mais prejudicadas e ficam mal de saúde, tendo que procurar um posto de saúde”, comentou outra moradora.
“Nós pagamos para a Odebrecht e o serviço não é de qualidade, o atendimento é péssimo, os valores cobrados pelos serviços são um absurdo”, comentou outro participante.
A instalação da Comissão foi realizada no dia 23 de fevereiro e é formada pelo presidente, Willian Souza (PT), relator Josué Cardozo (SD), e membros Rudinei Lobo (PRB), Tião Correa (PTB) e Marcio Brianes (PCdoB). Também estiveram presentes os vereadores João Maioral (PDT) e Valdir de Oliveira (DEM). A próxima audiência pública está marcada para o dia 10 de abril, na região do Maria Antônia.
Publicado em: 04 de abril de 2017